A Forca da Meia Verdade
Jonas Golfeto
Editora Mireveja
A forca da meia verdade, do fotógrafo e diretor de teatro Jonas Golfeto, é um livro forte em sua temática e diferenciado em sua estrutura. Une fotografia e dramaturgia e, através de cenas ficcionais, discute o poder das imagens em nossa história, em especial a do jornalista Vladimir Herzog morto, em 1975, num suicídio simulado que se tornou ícone das mentiras e brutalidades do regime militar.
Com projeto gráfico da premiada designer Luciana Facchini, o livro tem duas capas e é composto por cinco álbuns fotográficos, cuja linearidade ou uma possível ordem de leitura não são pré-requisitos para a fruição da narrativa.
Além disso, cada um desses álbuns está relacionado a uma cor – azul, verde, preto, vermelho e branco – e traz uma versão diferente da imagem original, com interferências em sua textura e nos elementos referentes da matriz, que são suprimidos, distorcidos, apagados, iluminados. A cena teatral é apresentada a partir dessas imagens fotográficas recriadas pelo autor.
Assim, Jonas propõe uma intensa reflexão sobre o ato e o discurso fotográfico – “Qual é a responsabilidade do dedo do fotógrafo perante a imagem que ele testemunha enquanto aperta voluntariamente um botão mentiroso?”, diz a narradora da peça.
Para o autor, uma das provocações de seu trabalho é instigar a interpretação dos discursos produzidos pelas imagens fotográficas do livro, conduzindo o leitor a relacionar esses discursos com o texto da peça e os fatos políticos envolvidos. “Acredito que esse seja um bom estímulo para uma futura encenação, além de servir de alerta para que as fotografias sejam analisadas com a desconfiança que merecem, pois são interpretação da realidade, e não reprodução ou evidência dela”, finaliza.