Baixa Estima
Cicero Costa
Autopublicado
Cresci num núcleo familiar denso e complicado, marcado pela escassez, alcoolismo,
trabalho e com uma relação pouco amigável com a escola.
A infância e a adolescência me trouxeram um senso de responsabilidade precoce e também contribuíram para a construção da minha auto-estima – ou melhor, da ausência dela.
Contextos sociais marginalizados têm resultados previsíveis na vida adulta: sub-empregos, vícios e criminalidade. Essa é a regra do jogo.
Alguns poucos e fortes conseguem escapar dessa realidade, dificilmente sozinhos, nunca sem levar marcas e códigos por toda vida.
Às vezes a desesperança e o desencanto com o futuro surgem, e na maior parte do tempo ando curvado pelos problemas e, literalmente, pela postura.
Durante muito tempo, sem perceber, fotografei o que os olhos encontravam no nível do chão.
Os defeitos e cicatrizes do tempo nos pisos. A passagem das pessoas, os objetos esquecidos e o lixo.
Tais registros revelam esse meu andar cabisbaixo, esse jeito de buscar referências de baixo pra cima, metáfora de não jogar fora, nem deixar pra trás o que doeu.
Da matéria ao caráter e subjetividade.